O melhor da Copa até aqui

Neste começo morno de Copa quase nada se viu de bom futebol. Um pouco da Argentina que mostrou inegáveis qualidades ofensivas, evidentes problemas defensivos e um Messi bem à vontade em campo.

A África do Sul mostrou toda empolgação por sediar a primeira Copa na África, mas não foi muito além disto. O México foi o de sempre, bons jogadores, grande expectativa em uma equipe que toca bem a bola, mas ainda não aprendeu a definir.

Uruguai X França, Argélia X Eslovênia foram sofríveis. Deu sono, deu raiva por perder tempo vendo tais jogos.

A Grécia não é nem sombra daquela campeão européia de defesa quase intransponível, a Coréia mostrou as mesmas armas e fragilidades de outros mundiais; um time rápido, aplicado, mas que falta talento e força.

A Inglaterra decepcionou em sua estréia. Mesmo com uma escalação muito ofensiva – sem nenhum volante ou cabeça de área – o time dirigido por Fabio Capello não empolgou nem emplacou. E se alguém merecia vencer a partida era o Estados Unidos que ainda meteu bola na trave com Jozy Altidore.

A Sérvia também foi um fiasco. Vidic perdido, Stankovic e Krasic escondidos, Zigic muito recuado e Pantelic que dá dó. Já Gana mostrou a mesma virtude da Copa Africana de Nações, uma defesa muito sólida que concede pouquíssimas chances ao adversário.

No terceiro dia da Copa só falta a partida entre Alemanha e Austrália. Até aqui, pouco futebol, pouco na quantidade de jogos e na qualidade. Normal para um mundial que, a partir da terceira rodada da primeira fase, deve ganhar em emoção e categoria dentro do campo.

Com pouca bola, o melhor da Copa até aqui foi a entrada em campo da seleção Bafana Bafana na partida inaugural contra o México. Alegria que saiu dos vestiários e contagiou as arquibancadas do belíssimo Soccer City.

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Vágner Love, a banda

O centroavante Vágner Love do CSKA de Moscou é bastante contestado por aqui, muito em função de sua participação, quase sem gols, na última Copa América, jogada na Venezuela e vencida pelo Brasil, já com o técnico anão.

Mas na Europa, e não digo só na Rússia, Love anda fazendo muito sucesso. Tanto que virou até nome de banda em Frankfurt, na Alemanha. A única diferença é que o Wagner da banda é com W.

As influências da Wagner Love são bem variadas, vão desde o clássico disco de Donna Summer e Giorgio Moroder, passando pelo pop de Madonna e Pet Shop Boys, e chegam até o som mais requintado do jamaicano-estadounidense Cody Chestnutt.

Os caras vêm fazendo um certo sucesso no meio alternativo, inclusive no início deste mês tocaram em Zurique, na Suiça.

Abaixo segue a frustrada tentativa de se fazer um clipe engraçadinho… mas a música é legal! E no fim, você ainda ganha uma canjinha do clássico e mítico Kaoma, verdadeira lenda da lambada francesa, jejejejej!

Ligações obscuras, sentimentos escondidos…

Sei que muita gente pode achar meio fora de lugar o Asian aqui.

Mas quando vi esse clipe, da música Real Great Britain, foi imediata a ligação que fiz com a seleção francesa da Copa de 2006.

Ou pelo menos com os motivos que me levaram a torcer pela seleção champagne no mundial da Alemanha.

Aquele time francês me encantava não só pelo futebol, mas por ser tão a cara da França, a verdadeira, a dos dias de hoje.

A França argelina de Zidane, a França congolesa de Makelele.

O ritmo senegalês nos pés de Vieira, o  molejo de Guadalupe e Martinica nos gols ancestrais de Thierry Henry

A França, mesmo a branca, empobrecida e marcada, simbolizada pela cicatriz cruamente exposta de Ribéry.

A França, recortada, mutilada. A França dos retalhos costurados, dos sonhos terminados.

A mesma França que se revolta e explode em fúria, seja na cabeçada de Zidane em Materazzi, seja pelas mãos da periferia.

paris-revolta

O Garrincha da Música

geniosmarginais2Há exatos 66 anos nascia em Seattle, Estados Unidos, Johnny Allen Hendrix.

O menino pobre do subúrbio foi posteriormente renomeado como James Marshall Hendrix, mas o mundo o conheceria por um terceiro nome.

Jimi Hendrix é considerado por muitos o maior guitarrista de todos os tempos. Eu não entrarei neste mérito pois tenho uma séria dificuldade com este tipo de expressão e sinceramente não sei mensurar qual foi o maior guitarrista de todos os tempos.

Sei que Hendrix é meu favorito e pra mim isso basta.

Outra coisa que sei e que me dá pena, ou bronca, é que hoje Hendrix seja mais lembrado por sua irreverência e loucura que por sua música. Que seja colocado no mesmo saco que vários da geração Woodstock, apenas mais um hippie louco capaz de destruir instrumentos no palco ou tocar guitarra com a língua.

Não, ele era muito mais que isso.

Jimi Hendrix era um virtuoso na essência da palavra. Dominava seu instrumento, suas notas. Conseguia abusar dos experimentalismos sem macular o processo melódico.

Hendrix foi um músico de vanguarda, muito além de seu tempo ou até mesmo dos dias de hoje. Capaz de arranjos improváveis como em Crosstown Traffic e sensível o suficiente para criar Little Wing, uma jóia em termos de harmonia e melodia.

Inovador, brincava de múscia e nessa brincadeira criou e aperfeiçoou dezenas de equipamentos e efeitos sonoros até hoje utilizados no universo pop.

Jimi mudou a história da música popular, do rock, da guitarra. Inovou nas formas de tocar, fazer e pensar música.

No entanto, para a grande maioria, continua a ser o doidão que tocava muito e quebrava guitarras, o maluco dos ácidos na testa.

Poucos são capazes de ver o ritual Yorubá na performance em que Hendrix queima sua guitarra no lendário Festival de Monterey, na Califórnia. Trazendo para um contexto mais superficial, ainda poucos são os que reconhecem o verdadeiro valor musical de Jimi Hendrix e sua importância na história da música pop. Sua genialidade que vai muito além de sua incomparável técnica.

Por isso Hendrix me lembra Garrincha. O ponta direita do Botafogo era um monstro inigualável. E no entanto o que vemos hoje é, em quase todos os casos, uma representação do Garrincha folclórico, driblador irresponsável, mulherengo e beberrão. Quase não se fala da eficiência de Garrincha, bi campeão do mundo, artilheiro de Copa

O Anjo das Pernas Tortas jogava, vencia e encantava. E fazia tudo isso brincando.

Hendrix e Garrincha são gênios rotulados em papéis folclóricos que escondem suas verdadeiras relevâncias no meio em que atuaram. Não tiveram a mesma sorte que van Gogh. Mesmo cortando a própria orelha o holandês não teve – para a história – sua genialidade ofuscada por sua loucura.

Jimi Hendrix e Garrincha são os gênio marginais, no sentido etmológico da palavra. São os fodas, os foras de sério que tiveram que ser colocados de lado por não cumprirem com as exigências oficiosas, por não entrarem no padrão.

Para Ouvir: Little Wing – Jimi Hendrix